segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A mim.




Hoje escolhi minha melhor ceroula, afinal, é virada de ano, ou de página em branco, vai saber. A vodca no congelador desde ontem, e para acompanhar, alguns sucos de pó. Um copo cheio de azeitonas murchas e dois pacotes da batata "sensações" (peito de peru e frango defumado). Já separei os discos, mulheres cantando jazz e homens gritando blues.
E que venha dois mile treze, nessa porra!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Uma homenagem pós.

Dave Brubeck e Oscar Niemeyer subiram, ou desceram, ou nada, se tornarão pó. E deixaram por aqui uma obra incrível. Dois gênios, sem dúvidas ou mimimi.

E em justa homenagem aos grandes, tomo minha dose de vodca ao som do grande disco Take Five, enquanto passeio pelas ruas da galeria de imagens do google. E fico admirado com o traço do Niemeyer, que disse certa vez serem fonte de inspiração, os morros do rio e as curvas da mulherada.

E ainda dizem que os bons sempre vão cedo. Porra nenhuma! Aí os dois que não me deixam mentir.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O dia em que a consciência negra acabou



Saiu do trabalho, caminho tranquilo e lento até a Cinelândia, queria apenas comprar uma lata de cerveja, e depois de acabada, entrar no ônibus e chegar em casa o mais rápido possível. Mas ao avistar a Floriano Peixoto, vejo um palco grande, armado na frente da Câmara de Vereadores e começo a ouvir alguém falando e falando.
Chegando por lá, um evento chamado "Brizolândia" e logo após haveria uma apresentação de um grupo para encerrar as comemorações do Dia da Consciência negra. Vejo o Teatro Municipal, e o mesmo estava lindo, todo iluminado e seu tapete vermelho cobrindo as escadas,  esperando o público da noite.
Não resisti, tinha que ficar por lá. Muita gente na rua, pessoas falando por todos os lados, turistas fazendo suas fotos, mendigos com suas crias correndo soltas, e o amarelinho lotado de engravatados secando suas canecas de chopp. Comprei uma lata de cerveja, acendi um cigarro e me encostei numa grade que protege alguma instalação do metrô.
Terminado o evento Brizoleiro, começa o outro. Um grupo musical fica ao fundo, e no palco pessoas se apresentam, falando do Zumbi, do Rio de Janeiro mestiço, da favela, preconceito, de tudo.
Fui comprar outra latinha, e quando voltava ao meu ponto de apoio na grade, reparei o homem sentado no banco, negro e cheio de estilo com seu cachimbo na boca, ali sozinho, alheio ao evento, alheio às pessoas, olhando para o nada.
Senti vontade de puxar conversa com ele, comentar qualquer merda ou pedir uma informação, mas não quis incomodar sua paz. Estava com a câmera no bolso e já tinha feito algumas fotos do teatro e palco. Foi aí que pensei em não conversar com ele, apenas pedir para fazer uma foto e deixa-ló na sua. E falei de onde estava mesmo, um pouco próximo.
- Opa, posso fazer uma foto sua? Daqui mesmo.
- Claro, faz aí.
- Ok, agradeço. Pode ficar a vontade, daqui a pouco faço.
Passados alguns minutos, fiz. Acho que ele não percebeu. Mas logo em seguida ele levantou e veio falar comigo.
- Posso ver a foto?
- Infelizmente não. O display da minha câmera (tirei-a do bolso e mostrei) está quebrado. Mas se você quiser te mando por e-mail ou a gente combina por aqui, e trago uma impressa.
- Deixa pra lá. É muito trabalho.
- Não é. Será um prazer.
- Que nada, deixa quieto. Você não é daqui, conheço nordestino de longe.
- Meu sotaque é foda, não é? Arranco uma risada e vejo seus dentes brancos feito algodão.
- É mesmo. Tu sofre preconceito por aqui não é?
- Claro. E até por lá também sofria. Somos todos preconceituosos. Coisa de sangue e pele. Mas na maioria das vezes cago pra isso.
- É foda. Acho isso uma merda mesmo. E sabe o que é merda maior. Esse tipo de manifestação aí na tua frente.

Não há uma semelhança 100% do texto com a conversa real, claro. Mas a essência é essa. A conversa durou mais alguns minutos. E o cara tinha a mesma ideia que o Morgan Freeman, que numa entrevista disse: "querem acabar com o preconceito, parem de falar sobre ele".