sábado, 23 de fevereiro de 2013

Eu por Camila



Nunca comece um papo perguntando se vai tudo bem, aquele velho e batido "oi, tudo bem?". Difícil alguém dizer que não vai, né não? E não piore as coisas perguntando: news? News é a puta que pariu, ora, ora! Além de usar o inglês, quer saber minhas boas ou más, novas? Penso que boa parte dos que perguntam não querem saber coisa boa. Querem a sua desgraça, o que você tem sofrido, emprego que perdeu, pé na bunda que levou, essas coisas.
E ainda há o que encontra alguém que não se via há muito tempo, e o incauto solta: mas diz aí, ainda trabalha naquele lugar, mora naquela cidade e tá casado com aquela mulher? Ora porra! Bem tu quer que os outros se banhem em merda, seu sujeito? Há pessoas que gozam com o pau dos outros, mas me parece que isso não é tão bom. Melhor é gozar com as suas misérias.

Foto: Eu por Camila Braga. Em sábado do ano passado, quando carreguei uma câmera velha, um filme velho, e um tanto de histórias embaixo do meu chapéu verde.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Ela e os sonhos

Quatro dedos de vodca, e completo o copo com suco de manga, sem gelo. O telefone toca, número é confidencial, atendo. Não sou dessas pessoas que não atendem números confidenciais. Era chamada a cobrar, desligo. Acendo um cigarro e manco até a janela para juntar a solidão da rua com a minha. Vejo um cachorro farejando o lixo do vizinho, e ele vai embora com a mesma fome. Ligo o rádio e o repórter diz a previsão do tempo. Lembrei de um canal do tempo que as mulheres tiravam a roupa. Sinto o cheiro de shampoo, ela entra no quarto, me beija e deita. Olho suas curvas, pele, cabelos, pés, nuca... Ela dorme, sem frescuras, sem pedidos, sem cerimônia. E fico parado decifrando seus sonhos até o sol nascer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Há certos dias em que o tempo é apertado, entre uma coisa e outra, corremos sem ter... E na loucura, lá vou comprar cigarro numa banca, mais uma vez. No dia estava com alguém, após a parada, minha cia. diz: você compra cigarro com certa frequência, mas só um maço, por que não uns tantos de uma vez, porra? Ora, ora, minha pequena, e perder a chance de conhecer o dono da banca? Não.

O valente que levanta as portas chama-se Giusepe, que logo cedo bate ponto lá na São José (Centro do Rio), defronte ao prédio que trabalhei por míseros três anos. Conhecedor do isqueiro Zippo como ninguém, sempre regulou o meu (aqui vale dizer, presente do meu primo Isnaldo, um preto). E por lá compro fluído, pedra, pavio, dentre outras coisas.

Hoje trabalho próximo à Cinelândia, mas não deixo de visitar a Banca do Giusepe. Trocamos uns caroços de papo, e depois de tomar umas heinekens, pego minhas coisas e vou embora.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Na Minha Cozinha


Hoje fiz comida, frango ao molho de sai lá. E sempre invento coisas pra você. Semana que passou foi carne com molho shoyo, mais alguma coisa, pimenta dedo-de-moça, amendoim, açúcar e tal... Misturo isso com aquilo, você diz que o cheiro é bom, e o gosto também.

Lembrei que fui ao médico, e ele com a voz pachorrenta: coma salada minha santa, quanto mais verde, melhor. Porra de verde! Não gosto de coisa verde. O prato tem que ter cor, quanto mais, melhor. Inda bem que você gosta de cores.

Vou trabalhar, chego voando pelas vinte horas. Jante bem e vá pra cama com cheiro de homem que toma banho e só usa sabonete, e quando eu deitar, me coma.

Ass. A Cozinheira.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O humano borboleta



Bela Borboleta! Lembra que eu te chamava assim, Marília? Não é coisa toa, porra, ou puta, sei lá. Você voando e curtindo ventos, além de enganar todos ao sugar o açúcar do amor, queres o meu remendo? Melhor ficar em teu casulo, não? Mas tu bens sabes, és uma grade fela, não se contenta, e vem com ideias loucas querendo justificar as tuas coisas.
Minha Marília, lembra da borboleta que era casulo, virou borboleta e morreu? Claro, pois então, se foi, se fodeu. Borboleta? Por mais esperançosa e cheirosa, não dura muito, alguém de passagem.
Mas não se fique doída, ou doida, vai entender. Sem coisa ferida, pois bem sei das tuas coisas, e na verdade, só queria te comer.

Foto: Reflexo da mesa em sala, que foi regada a sal, violão e outras coisas. Por Ruth (minhã irmã).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sós os canalhas sobrevivem



Não há mulher nesse bom mundo de meu deus que nunca tenha dado um pé no rabo de alguém. Até os homens, claro. Mas ao que é bom amador, aquele que leva um pé e não descansa, não fica cheio de "mimimis" esperando milagre que não existem. O canalha, ou a, não vai descendo ralo abaixo nesse lance de não quero mais amor, de estou fechado pra balanço. Não, não. Pecado! Isso é tosqueira. Papo de quem fecha a velha bomba de sangue para uma das melhores coisas da vida, correr o risco de caminhar nas ruas, no meio das estradas do amor, do desconhecido, zanzar em meio ao vale escuro, pegar o amor de frente. Encarar o amor é tarefa para poucos, creio. Ficar defronte a alguém e sentir uma fisgada na pele, não é para todos. Alguns fogem, como diabo... Outros ficam na linha, e de frente, encaram essa coisa, que é viver um amor.

O doce acabou


Hoje quebramos relógios para esquecer o tempo. Tentamos evitar a angústia de esperar o mesmo tempo, para outra vez quebrarmos promessas de nunca aquilo, nunca isso, nunca mais... Que a felicidade não seja a cantada por Vinicius, mas ultrapasse a mórbida quarta-feira, e das cinzas, possamos fazer confete e serpentina para o resto o ano inteiro.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O canalhismo grande


Nada mais justo que após uma semana na labuta, o bom trabalhador brasileiro acorde na sexta-feira com uma alegria maior. Os caras fazem planos, combinam as saídas, as bebedeiras e etc; as pequenas vão ao salão fofocar e claro, se embelezarem para a noite. E o ar de felicidade é geral, tanto nas ruas, como por essas bandas do facebook. E ontem, foi talvez a melhor sexta do ano, pois os foliões já fitavam os quatro dias de carnaval. A melhor sacanagem já inventada pelo bicho homem.

Depois de fechar a bodega, desço pra rua e caiu nos braços da folia, já pedindo a benção ao nobre deus Dionísio. O asfalto começa a ser tomado pelos personagens, e de ridículos a interessantes, olhamos para Joaquins Barbosa, Enfermeiras, Policiais, Bambans e Pedritas, Hulks, Smurfetes... Paro na Cinelândia para comprar uma cerveja, e vou à Lapa.

Pouca gente, era cedo, ainda mais pesando o fato de que ontem não teve show, nem bloco até certa hora. Bebo umas e outras, banheiro. Em que pese a boa vontade do nosso querido-odiado Prefeito, para evitar que a turma ande soltando urina no meio das ruas, sempre há uns e outros que não têm bexiga, e fazem onde bem querem.

E como o brasileiro, o povo, adora uma bagunça, uma zona. Ontem a mulherada estava usando, também, o banheiro dos homens. E no meio de bêbados foliões, a putaria estava instalada. Não vi justificativa para as mulheres usarem o banheiro masculino, pelo menos naquela hora, não havia tanta gente nas filas. Depois disso, foi só sacanagem, era homem entrando com homem, mulher com homem, mulher com mulher, e por aí vai.

Mas quando a coisa apertou, surtei pra casa, porque banheiro que se preze, só o nosso mesmo.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Você meu bem, você é meu bem, e suas coisas também. Não só por fazer sexo bom, trepando um no outro, mas há outras coisas. Sempre depois, te vejo deitado fumando seu cigarro, e você olha pra merda do teto querendo que eu saia feito puta. Não sou uma puta, dessas que você ouve, come, ouve e manda ir embora! Gosto de ficar aqui, dormir na mesma cama, sentir os cheiros, ficar olhando tuas poucas coisas... É bom, as vezes é tão bom quanto a trepada, sabia? Mas o melhor é quando você me acorda com uma caneca de café, bem preto, forte e quente. E enquanto eu bebo, você me chupa e beija toda, me deixando languida, doida pra trepar de novo.

Indo e voltando







Imaginando milagres, pois milagres não existem.

Foto: O Passeio e o Público.



Bela luz que ilumina
Espetáculo e fachada
A praça toda em silêncio
Estava quase lotada
Alguém que ia passando
Outro alguém fotografando
Na Cinelândia sagrada.

Feito em pedaços

Minha pequena te digo
Em sete versos rimados
De tanto que me espalhei
Coração tá em pedaços
E a distância nem é grande
Pra te encontrar num instante
Ando eu em largos passos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O minuto da fama



Algo que impressiona hoje em dia é essa loucura de querer aparecer. Todos querem ser reconhecidos no meio da manada. E tem até louco se passando por famoso para galgar o sonho. E sai a publicar textos assassinando Arnaldo Jabor, Clarice Lispector... E a lista é longa. No meio fotográfico não é diferente. Fotógrafos amadores correm atrás de uma imagem para vender ao jornal, por migalhas, diga-se, para ter seu minuto de fama, e por aí vai.

Mas no caso de fotos, as vezes vejo acontecer coisa contrária. Um sujeito tem sua fotografia publicada na rede, mas corre atrás para que seja retirada, ainda processando o idiota ladrão. Claro, nada mais justo. Já vi muitos casos em fóruns, e hoje, mais uma vez, algo parecido.

Uma pessoa abriu um tópico relatando que entrou na internet, e como de costume, foi procurar uma foto de sua autoria no google. Porra! O cara aparentemente gosta de fazer fotos, e por mais desleixado que seja - meu caso-, tem uma conta em algum lugar com seus arquivos, não fica procurando no google. Para surpresa do menino, eis que sua foto estava publicada num site, e sem o devido crédito. E o bobinho lá, perguntando o que fazer.

Ora menino inocente, em primeiro lugar, vá à merda! Você acha que foi roubado e que o ladrão ganha uma grana usando sua imagem? Procure um advogado, processe, solicite ao idiota ladrão seu crédito, sua grana, ou que ele retire a foto, basta. Mas não esquece, se pedir apenas para ele creditar a autoria, agradeça por divulgar, ok? E por favor, vá chorar na barra da saia da sua mamãe.


Foto: Cinelândia, em dia de Cordão do Bola Preta/2013. E por falar em fama, dizem por aí que ano passado o Bola amarrou o Galo, e ultrapassou a ave em número de foliões.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ao tudo que era meu e nada me resta



Rejunto os cacos e o pó, me refaço, e desfaço tudo que me desfez. Frio e lento, caminho com pernas cansadas de ancião e sua artrite, que insiste em querer me parar. Mas não posso parar, não posso querer o luxo da desculpa banhada de dor e medo. Não, não quero.

E vou por aí, procurando existir no meu mundo, criando minhas coisas e dando sentido aos retalhos em minha frente. Pois só aquilo que dou sentido, é aquilo que me faz existir e sentir. Abanando a poeira que não fede nem cheira, vou subindo a ladeira da vida, em destino traçado de incertezas. E se é feliz ou triste, não importa, só me basta ser vivido.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Dia dos Infernos





Há dias que a chuva não dava trégua por essas bandas. Mas desde ontem, o queridinho Pedro resolveu fechar a pinta por aqui. E se instalou a festa no Largo da Carioca. Alguém usando patins e imitando o finado dono da terra do nunca; outro fazendo pose de estátua, todo pintado; um sujeito com uma bicicleta em que o guidão é solto, oferece 50 Dilmas para quem andar na magrela, e por aí vai... E como não poderia faltar, estava lá, ele, o cristão louco, a porra louca que urra a merda que deveria sair pelo rabo.

O sujeito de quem falo, é esse baixinho aí no canto. Tanto lugar na praça, e o tal resolve instalar sua placa ao lado de uma banda dos nossos irmãos da Argentina (por sinal muito boa, que toca música instrumental, mas isso é assunto pra outro post)? Mas para antecipar o dizer do seu cartaz, ele queria começar o inferno aqui.

Longe de mim querer ouvir o maluco, inda mais tentar fazer qualquer tipo de interação com o tal, mas não pude me conter. Tentei não prestar atenção na sua voz que saía de um falante pendurado em seu pescoço. E ele lá, soltando tanta bobajada, que faria qualquer Jó perder as estribeiras: muitos são chamados, mas poucos escolhidos, porque vocês não prestam nem pra fazer sabão; eu acho é pouco esse pessoal que morreu na boate, estavam fazendo coisa do demônio; e blá blá blá. Vez por outra alguém passava por ele e dizia alguma coisa.

Eu na minha, estava encostado num poste com uma lata de cerveja na mão e um cigarro na outra e ele solta: vocês que bebem cerveja e fumam maconha, acham que vão para o céu? Vocês não valem nada, estão todos mortos... Foi a gota. Minha putice que já estava transbordando por conta do comentário sobre o acidente na boate, foi pra puta que pariu. Não pude me conter, fui até o calhorda e mandei um belo vá toma no olho do seu cú.

Comprei um CD da banda argentina, fiz uma foto deles, depois uma do idiota e zarpei. Mas lá fui, e pensando no tal inferno e nas pessoas legais que vou encontrar por lá, sorri.