segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A mim.




Hoje escolhi minha melhor ceroula, afinal, é virada de ano, ou de página em branco, vai saber. A vodca no congelador desde ontem, e para acompanhar, alguns sucos de pó. Um copo cheio de azeitonas murchas e dois pacotes da batata "sensações" (peito de peru e frango defumado). Já separei os discos, mulheres cantando jazz e homens gritando blues.
E que venha dois mile treze, nessa porra!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Uma homenagem pós.

Dave Brubeck e Oscar Niemeyer subiram, ou desceram, ou nada, se tornarão pó. E deixaram por aqui uma obra incrível. Dois gênios, sem dúvidas ou mimimi.

E em justa homenagem aos grandes, tomo minha dose de vodca ao som do grande disco Take Five, enquanto passeio pelas ruas da galeria de imagens do google. E fico admirado com o traço do Niemeyer, que disse certa vez serem fonte de inspiração, os morros do rio e as curvas da mulherada.

E ainda dizem que os bons sempre vão cedo. Porra nenhuma! Aí os dois que não me deixam mentir.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O dia em que a consciência negra acabou



Saiu do trabalho, caminho tranquilo e lento até a Cinelândia, queria apenas comprar uma lata de cerveja, e depois de acabada, entrar no ônibus e chegar em casa o mais rápido possível. Mas ao avistar a Floriano Peixoto, vejo um palco grande, armado na frente da Câmara de Vereadores e começo a ouvir alguém falando e falando.
Chegando por lá, um evento chamado "Brizolândia" e logo após haveria uma apresentação de um grupo para encerrar as comemorações do Dia da Consciência negra. Vejo o Teatro Municipal, e o mesmo estava lindo, todo iluminado e seu tapete vermelho cobrindo as escadas,  esperando o público da noite.
Não resisti, tinha que ficar por lá. Muita gente na rua, pessoas falando por todos os lados, turistas fazendo suas fotos, mendigos com suas crias correndo soltas, e o amarelinho lotado de engravatados secando suas canecas de chopp. Comprei uma lata de cerveja, acendi um cigarro e me encostei numa grade que protege alguma instalação do metrô.
Terminado o evento Brizoleiro, começa o outro. Um grupo musical fica ao fundo, e no palco pessoas se apresentam, falando do Zumbi, do Rio de Janeiro mestiço, da favela, preconceito, de tudo.
Fui comprar outra latinha, e quando voltava ao meu ponto de apoio na grade, reparei o homem sentado no banco, negro e cheio de estilo com seu cachimbo na boca, ali sozinho, alheio ao evento, alheio às pessoas, olhando para o nada.
Senti vontade de puxar conversa com ele, comentar qualquer merda ou pedir uma informação, mas não quis incomodar sua paz. Estava com a câmera no bolso e já tinha feito algumas fotos do teatro e palco. Foi aí que pensei em não conversar com ele, apenas pedir para fazer uma foto e deixa-ló na sua. E falei de onde estava mesmo, um pouco próximo.
- Opa, posso fazer uma foto sua? Daqui mesmo.
- Claro, faz aí.
- Ok, agradeço. Pode ficar a vontade, daqui a pouco faço.
Passados alguns minutos, fiz. Acho que ele não percebeu. Mas logo em seguida ele levantou e veio falar comigo.
- Posso ver a foto?
- Infelizmente não. O display da minha câmera (tirei-a do bolso e mostrei) está quebrado. Mas se você quiser te mando por e-mail ou a gente combina por aqui, e trago uma impressa.
- Deixa pra lá. É muito trabalho.
- Não é. Será um prazer.
- Que nada, deixa quieto. Você não é daqui, conheço nordestino de longe.
- Meu sotaque é foda, não é? Arranco uma risada e vejo seus dentes brancos feito algodão.
- É mesmo. Tu sofre preconceito por aqui não é?
- Claro. E até por lá também sofria. Somos todos preconceituosos. Coisa de sangue e pele. Mas na maioria das vezes cago pra isso.
- É foda. Acho isso uma merda mesmo. E sabe o que é merda maior. Esse tipo de manifestação aí na tua frente.

Não há uma semelhança 100% do texto com a conversa real, claro. Mas a essência é essa. A conversa durou mais alguns minutos. E o cara tinha a mesma ideia que o Morgan Freeman, que numa entrevista disse: "querem acabar com o preconceito, parem de falar sobre ele".

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Felipão o cagão.

Meu primeiro emprego foi aos 16 anos, era na Ag. Cabo Branco da Caixa Econômica, em João Pessoa/PB. Por lá trabalhei dois anos, era office boy do Gerente. Tios, primos e amigos meus trabalharam e alguns ainda trabalham em banco, então posso dizer que vi e ainda vejo de perto o que é ser bancário. Mas na verdade, nem precisa ver de perto, hoje em dia, sabemos bem que ser bancário não é nada fácil.

Bancário precisa cumprir metas, atender ao público, que nem sempre é simpático e por tantas vezes é burro, correm risco de assalto e sequestro (principalmente os gerentes), e por aí vai. Tudo isso por um salário nem sempre a altura. O resultado? Não precisa ser nenhum experto para saber; estresse, LER e outros tantos problemas. E não é qualquer um que consegue um emprego em banco, seja privado ou não. No caso do privado, se a pessoa não teve indicação, etc, tem que ser competente, inteligente, ter um bom currículo, se for do Governo, precisa sentar a bunda numa cadeira e estudar para passar no concurso, e uma vez passando e quiser subir de cargo lá dentro, estudar mais ainda.

Aí um tal de Luiz Felipe Scolari, o Felipão, novo técnico da seleção brasileira de futebol, diz que o Brasil tem obrigação de vencer a copa que aqui, e mais: "Se não tiver pressão, vai trabalhar no Banco do Brasil, senta no escritório e não faz nada". Puta que me pariu! Vá tomar no vosso cuzão Felipão. Quer dizer que um bando de idiotas que correm atrás de uma bola sofrem pressão? Só se for dos patrocinadores, para manter uma imagem de bom moço, e não poderem beber e sair por aí comendo todo mundo (o que fazem muito bem); pressão de não saber qual carro importado vão comprar para ir à balada na segunda-feira aqui no Rio, e ficar num camarote cheio de biscates; passar o carnaval na Sapucaí dançando, comendo (nos dois sentidos) e bebendo de graça; pressão de escolher qual gostosa é digna de uma boa pensão de alimentos e etc.

Mas sei lá, vai ver eles sofrem pressão mesmo. Li outro dia que hoje existem psicólogos nos times de futebol. E até vejo certa razão, pois um sujeito que passa a vida correndo atrás de uma bola, usa brincos, colares e tem um corte de cabelo pra lá de duvidoso, só pode ter problema na cabeça mesmo.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma estrela

Em certo grau e tempo, pessoas e coisas mudam, deixam de ser um pouco, ou muito, daquilo que conhecemos em outra hora. É como uma vela que apagou, sei lá quantos anos-luz, e a gente teima em querer sentir sua chama, que há tempos deixou de existir.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Preço.



Vamos rolando a bola
Não existe neve
Correr catando pedaço de tempo
E não há tempo suficiente.
Preso em trânsito
Escritório frio e tenso
O dia as vezes
É mais pesado que a noite.
Lá fora todos dormem
Em cabanas podres
Ou quase todos.
A puta fica puta sozinha
Um velho na porta da igreja
O frio martela sua artrite
Ônibus que corre cruzando sinal
A rua é vermelha de sangue
E um táxi passa rápido.
Água fina caiu do céu
Que aguou o chão
E teimou para entrar em bueiro.
Rua em silêncio de motor
Embaixo de árvores outros carros
Escondida, a lua fica calada
E a luz do poste é quente.
Amanhã outro dia que passa
E pesada segue a vida
Torturando, silenciosa, lenta e fria
Transformando fôlego em agonia
Mostrando a morte da gente.

sábado, 24 de novembro de 2012

E antigamente era assim


Essa semana li a seguinte notícia: "Tablets para educação começam a ser distribuídos no Brasil, e chegam às escolas públicas em 2013". Lembro que num passado não muito longe, o Governo distribuiu computadores aos professores e alunos da rede pública, e esse papo do tablet acho que surgiu esse ano. De inicio, só os professores irão receber, para aprender a usar, e só depois o aluno ganha o seu. Mais um ato da tão falada e assustadora "inclusão digital".
Em que pese as justificativas dadas pelo MEC e seu Ministro, é de se questionar, sempre, qualquer intenção do Governo com relação ao povo. Para a distribuição dos tablets, elas caminham desde a facilidade na distribuição de conhecimento, passando pelo aluno que poderá ser autor e não um mero recebedor de conteúdo, até o fato da prova aplicada pelo professor ser corrigida automaticamente. Puta merda! O brasileiro é preguiçoso mesmo. Além de aplicar uma prova qualquer, ela precisa ser corrigida automaticamente pelo tablet. E por outro lado, as editoras choram por pensar que não irão imprimir mais livros didáticos, e claro, não ganharão seu punhado de dinheiro justificado por licitações fraudulentas. Mas claro, a quem comemore, as fábricas dos tablets, principalmente a Positivo.
Penso que nós não somos preparados para receber esse tipo de bônus. O aluno da escola pública (e também da particular, não?), em sua maioria, não quer um tablet para ter conteúdo, não quer produzir nada, não quer estudar, não quer ler um texto com mais de três linhas (imagine um livro), imagine ainda, sentar a bunda na cadeira e pensar para produzir algo, não simplesmente compartilhar uma foto juntamente com um texto de algum famoso, e sem nem saber se o texto é do tal famoso? O alunado de hoje vai pegar o tablet, não para estudar, para produzir, nada! Sairão em bando para fazer foto de festinha, postar um monte de merda no facebook, jogar conversa fora, viver sua liberdade de "expressão" idiota, e o pior, totalmente acolhidos pelo MEC, que sinceramente, penso que caga pra educação, só pode.
Vejo todos os dias no ônibus os alunos da rede pública indo pra lá e pra cá, e ao passar a roleta tiram a camisa do colégio (aqui aluno tem que usar a camisa do colégio para não pagar passagem), e descem no centro. E aportam lá para estudar? Porra nenhuma, vagabundagem, isso sim! E não é minoria, e não acontece só aqui no Rio. Meus últimos sete anos de estudo foram em escola pública, isso em meados da década de 90, e sei bem como a manada se comporta. E hoje é pior, basta futucar meia horinha o facebook  e ver o pau, porque a cobra morreu faz tempo.
Daqui a pouco as escolas públicas serão construtivistas (outra merda), e também se tornarão centros virtuais com aulas gravadas em vídeo, igual a essas tantas universidades espalhadas por qualquer beira de esquina, que não forma quase ninguém, vendem diplomas. E não há motivo para exigir muito do alunado, afinal, para entrar em qualquer na universidade de merda, basta pagar.
Que saudade do velho e bom método decoreba, da tabuada, da redação feita na mão, e de tantas outras coisas, inclusive do cheiro da almondega que era servida na escola pública que estudei meu primeiro grau. E a cada ano ouviremos mais gritos e mais gritos fazendo música, para que possamos dançar no meio das marchas, feito vadios que somos.
Mas quando o MEC começar a distribuir tablet, serei o primeiro a rasgar meu diploma, me matricular numa escola pública e pegar o meu. Sou filho do diabo, e também quero brincar.

O dia e a noite

As coisas não acontecem do dia pra noite, mas da noite pro dia, em sua calada.

As drogas

Não sou contra a droga nenhuma, exceto religião.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Que saudade do cinema na rua


Desde que me entendo por gente gosto de filme. Se no ano de 78 existiu um drive-in em João Pessoa, tenho quase certeza que fui feito por lá. Lembro quando meu tio Júnior comprou um vídeo cassete, sei lá qual o ano. O vídeo tinha controle remoto com fio e tudo. Todo final de semana íamos a uma locadora chamada Center Som/Center Vídeo, ficava na Praça da Independência. Era uma maravilha escolher os filmes e ir para casa do meu avô assistir.
Depois comecei a ir ao cinema, e sempre fui muito. Em João Pessoa adorava o Municipal, que hoje infelizmente virou uma igreja dessas de arrancar dinheiro do pobre coitado. O Plaza também fui tantas vezes, e lá rolava até uns filmes de putaria. Acho que o Plaza deu lugar a uma loja de sapatos, e pensando bem, o Plaza deveria ter virado a Igreja. Havia outro cinema no Hotel Tambaú, mas fui poucas vezes lá.
Depois apareceu o Cine Rex Manaíra, com apenas duas salas, que mais pra frente virou Box Cinema, com mais algumas salas. Nasceram também os cinemas no Mag Shopping e Shopping Miramar. Lembro que por várias vezes cheguei a ver todos os filmes em exibição. Nessa época ia ao cinema quase sempre sozinho.
Com o tempo, fui perdendo o tesão por cinema, não por filmes, claro. Tinha tudo em casa e o cinema foi ficando chato, muito barulhento, cheio de celulares, pipocas e etc, além de ter que ir ao shopping para ver um filme. O último filme que vi foi Tropa de Elite 2, dois anos atrás. Mas me rendi, e ontem assisti Gonzaga - de pai pra filho.
Quando vi o anuncio do filme, pensei em assistir na telona, e a vontade passou logo. Mas na semana de estréia rolou uma promoção aqui no facebook: escreva uma história contando como você conheceu a música do Rei do Baião, e concorra a um ingresso. E não é que ganhei. Como trabalho bem próximo ao Cine Odeon, pensei que seria perfeito. Sairia do trabalho para assistir. Ao chegar por lá, doce ilusão. O Odeon não aceita convites. Fiquei puto, quase rasguei o papel, decidido a assistir no meu sofá, com uma lata de cerveja na mão. Deixei quieto, pus o convite no bolso e tomei rumo pra casa. E ontem minha irmã me convenceu a ir, e fui.
Fomos ao Shopping Iguatemi, aqui perto de casa, última seção às 20:45 no meio da semana, deve ter pouca gente, que nada, enfrentei fila para pegar o ingresso, não por conta do Gonzaga, o culpado era o vampiro bicha. Entramos na sala, quase ninguém, maravilha! Sentamos no meio, lugar perfeito. E aí começa a desgraça.
A sala começou a encher de gente, mas isso não seria problema se fosse de gente educada, mas não era. Começa o barulho das pipocas, dos sacos de salgadinhos, das conversas, das luzes dos smartphones e também o filme. Depois de quase uma hora de exibição, as luzes dos phones desaparecem, as conversas diminuem, e o barulho das bocas esfomeadas cheias de pipoca, vai dando lugar ao mais infernal de todos os sons que um ser humano pode fazer, algo que irrita até um surdo, a boca chupando as últimas gotas de refrigerante, e o refrigerante brigando com o ar por espaço no canudo. Puta que pariu! Acho que esse barulho só perde pra o de alguém comendo uma maçã ou chupando uma colher de sopa. E depois disso, não há filme que preste.
Bom, sobre o filme do Gonzaga, é como dizem, as vezes o melhor da festa é esperar por ela.
E cinema? Nem se for o Paradiso.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

No quarto, uma madrugada


- Pega uma cerveja. Ela disse com as pernas ainda jogadas no espelho da cama.
- Vai você.
- Porra. Tu não tens nada de cavalheiro, não é?
- Sei lá. Na verdade nunca quis pensar sobre isso.
Ela levanta nua e caminha pelo quarto. Seu corpo é bonito, uma bunda perfeita, com aqueles furinhos de cada lado, que me deixa doido. E ela volta com uma garrafa na mão.
- Quero mais de você.
- Pode ser, vamos acabar a cerveja.
- Acaba aí, eu só queria um gole. Vou tomar um banho.
- Nem precisa.
- Mas quero.
- Ok.
- Ei, um problema aqui. Ela grita do banheiro.
- O que foi?
- Acho que menstruei.
- E isso é problema?
- Pra você é?
- Não.
Voce me devolve beijos e coisas, quem disse que quero? Te dou, e de mão beijada, e jogo tudo em cima da cama. Tudo seu. Não precisa me oferecer mais nada. Veste a roupa e vai embora, que desse meio de perna eu já enchi o saco.

Em fila, na fila

Depois do almoço fui ao banco fazer a digestão da quentinha. Sabia que enfrentaria uma fila de filho da puta, e fui. Odeio filas e odeio bancos. Os infelizes que estão na minha frente sempre demoram, e não sei ao certo porque odeio bancos, deve ser por está sempre sem grana e ver tanta gente depositando dinheiro ou pagando as contas da empresa. Vai ver é isso. E depois de uma hora ou mais, chegou minha vez, agora vou botar pra fuder e demorar a eternidade de fazer um depósito.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Maria Rita


Ela é Maria Rita, filha da Elias Regina. A segunda dispensa qualquer comentário, e quem quiser saber mais google por aí, cate histórias e músicas, aos montes.
No inicio da carreira, a Maria Rita sempre disse, em frases certeiras, que não queria comparação entre as duas. E aqui vai uma frase colhida da minha infância: certa ela.
Nós temos o horrível hábito de dizer essa merda: filho de peixe... E na maioria dos casos isso não é verdade, nunca foi, nem nunca será. Apesar de claro, reconheço que certas coisas são definitivamente genéticas, óbvio.
Esse dito popular cai como um peso em nossas costas, pobre coitadas. O "peixinho é" é coisa é exigida, cobrada mesmo,  e quando a gente se sente na obrigação de ser filho de peixe, e ver que não é, lascou.
A Maria Rita fez um show em homenagem à mãe, e é bom. Mas não é Elis, não é muito perto do que foi a Elis, mas é show, uma homenagem, e isso basta. E ela deve saber disso.
Gosto da Maria Rita, mas nunca esperei que ela fosse igual à Elis Regina. Gosto por ela cantar bem, dançar, ser linda, deliciosamente linda, alias, e não ter o querer de ser igual à mãe.
Abaixo uma música boa, que gosto mesmo, bem gravada, como todo o disco dela é. Saiu no álbum Segundo, lançando em 2005 e teve a produção do mestre Lenine. Nesse disco ela canta, dentre outras coisas, Chico Buarque e uma música da banda O Rappa. Mas cantar uma música da banda O Rappa? Deve ser por conta do Falcão, que na época estava comendo Maria. Mas como todo e bom falcão, ele é menor que a fêmea, bem menor.

http://letras.mus.br/maria-rita/265641/#selecoes/73640/

Supermercado


O dia amanheceu bom, alias, muito bom, um muito bom nublado, frio, sem chuva, e o melhor, silencioso. Em dia que a gente vai à cozinha e inventa de fazer certas coisas diferentes, o fora do habitual, sempre falta alguma tempero, uma farinha ou um pote de azeitona preta. Hoje por aqui é um dia desses. Estamos proclamando, mas nada de República, é aniversário da minha irmã Ruth. E as mulheres foram preparar o almoço, e claro, faltou farinha. E lá vou eu, o macho da casa, ao supermercado.
Fui ao mais perto de casa, que por sinal é o mais caro, mas como não ia comprar muita coisa, vale, além da   vaga no estacionamento e quase sempre não há fila grande nos caixas. Perfeito demais.
Coloquei coisas no carrinho, coisas sem sentido, coisas que não se ligam, como um quilo de sal e um amaciante (quem compra só isso?). Pensei que meu carrinho era o mais estranho ali dentro, não era. Fui pra fila do caixa, na minha frente uma velha com um pote de sorvete. Coitada, nesse frio, ser velho e tomar sorvete? Melhor um gardenal com uma boa dose de vodca barata. Em pouco tempo passa por um outro velho, e no seu carro um monte de red bull e activia. Puta que pariu! O velho só quer cagar e voar, ou voar cagando, que deve ser bem melhor.
E lá fiquei olhando aquelas estantes perto dos caixas. São as estantes mais estranhas do supermercado. Só coisas inúteis, com exceção da pilha que alimenta o controle remoto (uma das melhores invenções mundanas). As revistas então, uma merda. Antigamente ainda escapava a Playboy, do tempo que mulher era mulher, do tempo da Cláudia Ohana e Vera Fischer, do tempo que homem era homem, macho, não esses que andam por aí fazendo unha, pintando cabelo, cheio de bereguedês no pescoço e precisam de dicas para comer uma mulher.
Daqui a pouco vejo aquela mão passando ao meu lado, ela pega uma revista e diz: "isso é mentira". A revista estampava na capa algo assim: como trabalhar e ganhar dinheiro. Uma dessas merdas aí que vende feito água, como auto-ajuda e tudo que todo mundo acha que precisa. Era uma senhora gorda, na casa dos sessenta anos, olhei pra ela, e ela sorria e eu sorri em retribuição, e meu sorriso foi sincero. Disse que concordava com ela, mas não totalmente. E ela soltou uma frase feita que sempre ouvimos por aí: "quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro".
E a menina do caixa, por algum motivo, acendeu aquela luz vermelha, fiquei puto, pensei que ia morar ali dentro. Sempre que aquela luz acende é uma merda. Mas estava eu com a senhora gorda de sessenta anos, e a conversa era boa.
Ela disse que era puta com essa propaganda toda que pregam por aí, dessas fórmulas para você ficar rico, ser feliz, ter um casamento perfeito, criar os filhos perfeitos, etc e etc. Disse-me que sua filha não quer ter filhos, mas ela quer um neto, e fez certa cara de tristeza. Chegou a filha, uma mulher loira, cabelo um pouco curto e usando óculos, por volta dos trinta, e no mesmo tempo, minha vez de ir ao caixa.
Joguei na esteira meia dúzia de coisas estranhas, a moça do caixa pergunta se tenho cartão do supermercado, digo que não. Senti uma vontade grande de pedir para ela acender a luz vermelha, e passar ali aquele momento entre o acender e apagar da luz vermelha, que é eterno, mas aí eu suportaria, pois estaria com a loira.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Em valor, primavera





Quero descer

E me deitar

Flutuar numa piscina

Tão cheia de verdade e mentira

Me sentir em mar

Solto e tão leve

Me tornar certo vento que carrega flor

Requebrando em primavera

Para gracejar pela vida

Largando a verdade

E soltando mentira.

Vergonha de não ser ou de é.



Em certas coisas há o gostar ou desgostar. São apenas coisas. E é preciso não se preocupar.

Foto: Buraco do Lume, Centro/RJ.

ADO



Condenado

Isolado

Deitado

Calado

Cansado

Velado

domingo, 16 de setembro de 2012

Um dia

hoje tentei suicidio mas a morte não me aceitou. Alias há dias tento. Acho que sou fraco.

Uma rua




E quando fecho meus olhos
Sinto um queimar em minhas pálpebras
É um sinal? Sei lá! Nem quero saber se há algo. Só me resta o lamento que enche minhas órbitas com as lágrimas do meu chorar.

Foto: Um guri com bermuda laranja, um gato e outras coisas. Na esquina da Rua Severina de Freitas com a Francisco Lima de Araújo. 13 de Maio - João Pessoa/PB. Em idos de dois mile e tal, donde tenho muita história pra contar.

Há quem espere sorrindo, quando se é pra chorar, e pode ser tedioso, as vezes não penso em nada, pra me livrar dessa praga e não me decepcionar.

Foto: Ponto de ônibus na Av. Epitácio Pessoa - João Pessoa/PB.

Nota de Geladeira em manhã de domingo

Bom dia meu amor. Fui ao boteco da esquina tomar uns goles para molhar meus pensamentos. Na volta comprarei tomates frescos e manjericão. E farei o talharim regado ao molho que você tanto gosta.

Um afetuoso beijo,
Antonio Carlos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Solidão cheia.




Minha solidão foi tanta
A pele colada e calada ao meu osso
Não sobrou quase nada de mim
Só uma calma e certo calor.
E não preciso mais exigir
Todo desejo fugiu
Me deixando completo
Em tudo e repleto
Daquilo que chamo de amor.

As lagrimas

Gosto de chorar, embora as vezes não pulem lágrimas, eu gosto. E isso me faz sentir vivo, firme, forte. Me faz sentir o que posso chamar de ser humano e me deixa respirar.

Tormento.



Pier ou cais
Ou sei lá
Pular de um navio
Ou mergulhar
E nada me deixa feliz


E nada me deixa triste
E não consigo chorar
Guardo em mim tudo
Que é somente teu
E quase tudo em ti
Me faz te amar
E me derramo
No que me sustenta
Por vezes me aguenta
E as vezes me faz chorar.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Um amor de Paquetá.



Amo

E amo tanto

Sempre eterno

Não só enquanto dure

E as pedras paradas me dizem coisas


E meu todo amor me sustenta

E me faz suportar tanta agrura

Nisso ou disso que a gente chama de viver.




Foto: Umas pedras e outras coisas em Paquetá/RJ.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A flor do meu amor


Oi Amor, tudo bem? Hoje perdi a noção do tempo pensando em você. Senti sua falta por horas ou dias, sei lá. E você faz dessas coisas comigo. Mas não estou a reclamar, não mesmo, até gosto. E é tão bacana que depois você vem toda dengosa e cheia de não-me-toque-ponto-com. Aí é que o troço pega, e é fogo. E tuas pernas embalam minha dança e caiu no teu colo. Vou dormir feito criança com cheirinho de amaciante no nariz, e feliz como quem olha uma abelha por horas, e como ela (e voce) fica parada, toda tranquila a deitar em flor.

A santa pudice de uma pudice santa.

Me impressiona até hoje as pessoas temerem falar sobre sexo. É tudo as escondidas, como crime, como estupro ou sei lá.

E todos fodem no meio da noite, do dia, da rua. E fodem.

A vaidade vadia

Queremos exibir o melhor mas ver o pior de todos. São fotos, frases bonitas, check-in em lugar chique, o filho que passou no colegial e por aí anda a coisa. E gostamos de reclamar dos outros, de ver a vida passar contando suas desgraças e cantando cólera.

Um milagre, aleluia!




Meus queridos políticos, contrariando as projeções que dizem por essas e outras bandas, nosso querido mundo não acabará em 2012 e vocês finalmente terão a chance de consertar essa bagunça chamada Brasil sil sil.

Os sortudos eleitos receberão das mãos do povo uma varinha mágica, igualzinha a do Harry Poter (lembram dele? Um garotinho safado que ficava atrás da jovem Ermione). A tal varinha vem com poderes fantásticos. Vocês poderão transformar água em vinho, multiplicar pães, essas coisas. Mas claro, ninguém quer repetir milagre. Vamos inovar e satisfazer os desejos da galera.

Como primeira providência trocar de lado os pesos da balança impostos x salário. Uma redução nos impostos, mas reduzir mesmo, melhor, reduzir não, zerar tudo e modificar o modo de arrecadar dinheiro. Serão feitas doações, algo voluntário mesmo, já que somos pessoas tão solidárias. Vamos sustentar tudo com nossos altos salários. Podem até estipular o famoso 10%. E com relação ao nosso sustento, aumento! E pra deus e o mundo, um grande aumento, algo sem medida.

Feito isso, começaremos nossa punheta coletiva. Iremos gastar e gastar e gastar, satisfazendo nosso desejo louco de consumo. Compraremos carros, motos, bicicletas e até caminhões. Aipodes, aipedes, aiquilo, aiisso, aitudo. Entupiremos nossas casas com toda parafernália de coisas e cantaremos felizes em coro com nossa queridinha Vanessa da Mata.

Mas nem só de consumo vive o homem, muito menos de pão. Chegou a hora de investir na saúde, cultura e educação e outras coisas nem tão interessantes. Hospital em toda esquina, clínicas para lipoaspiração e coisas do tipo, como plástica para bunda e seios (nossas mulheres terão peitos e bundas grandes com seus narizes finos), salão de beleza onde faremos nossas escovas marroquinas e pintaremos nossas unhas de verde, amarelo, azul e branco. Shows e mais shows no meio da rua, teatros, praças lindas e belas para nossos velhinhos jogarem porrinha e nossas crianças tomaram banhos de alegria nas fontes. Escolas! Por favor, não esqueçam das escolas, e universidades também. Creches com montanha-russa, carrossel, pula-pula e até balão ou um zepelim. Arranquem o asfalto das ruas e cubram com tapete feito de manteiga, para nossos carros importados deslizar.

Agora sim, vocês não serão mais chamados de filhos da puta e poderão descansar em paz.

E que sejamos abençoados, amém!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A minha noite





Gosto da noite, dos carros, das cores, da luz, da falta da luz, do silêncio quebrado pelo burburinho daqueles que a gente nem sabe o nome, da calma, da agonia, das putas no meio da rua com sua sinaleira ligada, do táxi que passa lotado e não olha pra ninguém, do maluco que de tanto cheirar cola dormiu na calçada do Itaú, dos transeuntes com uma garrafa de bebida barata que riem para todos os lados e soltam xingamentos, dos calados que ficam sentados esperando o ônibus, dos tantos outros que andam e nem sei o que eles são. Gosto do mistério, de um tanto de tudo e das coisas que a gente pode fazer no escuro, como roubar um carro ou assaltar uma padaria. A noite é quase sempre melhor. E gosto do sol quando molha a pele, ela fica cor de mel e a gente deita na cama para amar e dormir.

Foto: Av. Rio Branco, Centro/RJ.

Complexo complexo.

Por que ostentar tanto título? É como ver o outro na merda, e falar para seus pares de merda, que o outro anda na merda.

Há quem se sinta bem, olhando o outro na merda.

Mentiras que falam a verdade

Há tanta mentira flutuando pelas ruas da internet. Parecem fotos cheias de edição pós-clique ou texto maquiados toscamente.

As fotos dos perfis são tão boas e belas, as frases românticas, de auto-ajuda ou qualquer coisa que o valha, mais belas não poderiam ser escritas.

E tudo não passa de maquiagem barata, daquela quando a gente acorda e tem um susto.

As biografias

Cansei de ler biografias, só falam quase sempre dos mortos. E o que os mortos ensinam? A morrer? Ninguém precisa aprender a morrer.

Quero os novos. E mudar feito camaleão no deserto. Acompanhando cada dia essa coisa louca que é vida.