quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Supermercado


O dia amanheceu bom, alias, muito bom, um muito bom nublado, frio, sem chuva, e o melhor, silencioso. Em dia que a gente vai à cozinha e inventa de fazer certas coisas diferentes, o fora do habitual, sempre falta alguma tempero, uma farinha ou um pote de azeitona preta. Hoje por aqui é um dia desses. Estamos proclamando, mas nada de República, é aniversário da minha irmã Ruth. E as mulheres foram preparar o almoço, e claro, faltou farinha. E lá vou eu, o macho da casa, ao supermercado.
Fui ao mais perto de casa, que por sinal é o mais caro, mas como não ia comprar muita coisa, vale, além da   vaga no estacionamento e quase sempre não há fila grande nos caixas. Perfeito demais.
Coloquei coisas no carrinho, coisas sem sentido, coisas que não se ligam, como um quilo de sal e um amaciante (quem compra só isso?). Pensei que meu carrinho era o mais estranho ali dentro, não era. Fui pra fila do caixa, na minha frente uma velha com um pote de sorvete. Coitada, nesse frio, ser velho e tomar sorvete? Melhor um gardenal com uma boa dose de vodca barata. Em pouco tempo passa por um outro velho, e no seu carro um monte de red bull e activia. Puta que pariu! O velho só quer cagar e voar, ou voar cagando, que deve ser bem melhor.
E lá fiquei olhando aquelas estantes perto dos caixas. São as estantes mais estranhas do supermercado. Só coisas inúteis, com exceção da pilha que alimenta o controle remoto (uma das melhores invenções mundanas). As revistas então, uma merda. Antigamente ainda escapava a Playboy, do tempo que mulher era mulher, do tempo da Cláudia Ohana e Vera Fischer, do tempo que homem era homem, macho, não esses que andam por aí fazendo unha, pintando cabelo, cheio de bereguedês no pescoço e precisam de dicas para comer uma mulher.
Daqui a pouco vejo aquela mão passando ao meu lado, ela pega uma revista e diz: "isso é mentira". A revista estampava na capa algo assim: como trabalhar e ganhar dinheiro. Uma dessas merdas aí que vende feito água, como auto-ajuda e tudo que todo mundo acha que precisa. Era uma senhora gorda, na casa dos sessenta anos, olhei pra ela, e ela sorria e eu sorri em retribuição, e meu sorriso foi sincero. Disse que concordava com ela, mas não totalmente. E ela soltou uma frase feita que sempre ouvimos por aí: "quem trabalha não tem tempo para ganhar dinheiro".
E a menina do caixa, por algum motivo, acendeu aquela luz vermelha, fiquei puto, pensei que ia morar ali dentro. Sempre que aquela luz acende é uma merda. Mas estava eu com a senhora gorda de sessenta anos, e a conversa era boa.
Ela disse que era puta com essa propaganda toda que pregam por aí, dessas fórmulas para você ficar rico, ser feliz, ter um casamento perfeito, criar os filhos perfeitos, etc e etc. Disse-me que sua filha não quer ter filhos, mas ela quer um neto, e fez certa cara de tristeza. Chegou a filha, uma mulher loira, cabelo um pouco curto e usando óculos, por volta dos trinta, e no mesmo tempo, minha vez de ir ao caixa.
Joguei na esteira meia dúzia de coisas estranhas, a moça do caixa pergunta se tenho cartão do supermercado, digo que não. Senti uma vontade grande de pedir para ela acender a luz vermelha, e passar ali aquele momento entre o acender e apagar da luz vermelha, que é eterno, mas aí eu suportaria, pois estaria com a loira.

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