terça-feira, 23 de abril de 2013

Segredos do mundo


Fui andar por aí como quem não quer nada, mas que tem sede de mundo, de coisas que falam no silêncio dos gestos.

Um homem gordo na fila do caixa de uma farmácia chupava um picolé amarelo, e tentava sacar seu cartão, para pagar uma caixa de fraldas; pedreiros levantavam paredes num prédio de dois andares, parecendo formigas ajuntando retalhos de folhas para o inverno; pessoas na academia malham seus músculos e barrigas inúteis, quando quando servem para algo, é fazer pose para tentar comer alguém, ou serem comidas; duas meninotas passeiam na calçada da praia e riem (será que falavam de algum marmanjo?); um jovem se ajoelha aos pés d'uma garota, e a lhe confessar pecados, cai no precipício do amor, levanta, puxa, abraça, e a beija fogosamente; um homem passa correndo, usa uma camisa de corrida, ele acena para mim, cordial até, respondo e o vejo passar, e ir correndo sei lá para onde; uma velha com artrite caminha lenta olhando para a espuma do mar, acho que ela tenta apagá-las com seu sopro fraco; um outro casal caminha lento pela areia, ambos calçando as sandálias do tédio, que não fazem barulho nas areias da praia; um menino brinca com um cachorro pastor-alemão...

Na minha solidão fito todos, e todos fazem parte de mim, e me dizem um segredo. Vejo que não estou sozinho, mas conheço todos. Tento empurrar as nuvens com um sopro, não consigo, e a lua que nasceu hoje a tarde (e é estranho quando a lua nasce a tarde, ela deveria nascer sempre ao por-do-sol), olho para ela e vou tomar um banho. Mergulho para ver o sol descer indo até o Japão. E tentando não me afogar no mar, apenas me permito sonhar, naquilo que é viver, sofrer e calar.

Foto: Praia do Bessa - João Pessoa/PB. Em dia que é terça-feira.

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